Pedagogia
(A última crônica de Moacyr Scliar)
A notícia chegou com atraso e deu um toque melancólico à passagem do ano: morreu a modelo e atriz francesa Isabelle Caro que, numa foto famosa, mostrou seu corpo magérrimo (pesava menos de 30 quilos) devastado pela anorexia nervosa, da qual ela, como muitas outras garotas, foi vítima. Fez disso uma causa, inteiramente justificada quando se considera as pressões exercidas, sobretudo sobre modelos, para que tenham um corpo delgado. Isabelle defendeu essa causa com coragem e com inteligência.
Por coincidência, no mesmo dia em que foi anunciada sua morte, era divulgado um estudo publicado na revista inglesa de psiquiatria Annals of General Psychiatry mostrando que pessoas com anorexia nervosa têm quociente de inteligência (QI) superior ao da população em geral. Não chega a ser novidade; outros estudos já haviam chegado à mesma conclusão. A pergunta se impõe: como se explica que pessoas inteligentes adotem o comportamento doentio que as leva a recusar o alimento, chegando ao extremo da completa desnutrição?
A resposta é óbvia. Inteligência não é a mesma coisa que equilíbrio emocional. Inteligência refere-se ao raciocínio, ao entendimento; situa-se no plano do intelecto. O equilíbrio emocional resulta da capacidade que todos temos, em maior ou menor grau, de lidar com nossos impulsos, positivos ou negativos. Por causa disso muitos autores propuseram expressões que unissem inteligência e controle emocional. Já no começo do século passado Edward Thorndike falava em “inteligência social”; em 1975 Howard Gardner introduziu a ideia de que inteligência não é uma coisa só, que há vários tipos de inteligência, incluindo a inteligência que permite a uma pessoa entender a si própria, seus sentimentos, temores, motivações; nos anos 90 surgiu o conceito de inteligência emocional popularizado pelo psicólogo (e colaborador do New York Times) Daniel Goleman, autor do best-seller Emotional Intelligence: Why It Can