Pedagogia dos erros
Pedagogia dos erros
A importância de analisar a origem das falhas
Mário César Ferreira
Todas às vezes que a imprensa divulga a tragédia de grandes acidentes, a primeira versão sobre as causas do ocorrido evoca o “erro humano”. Essa justificativa se alastra como erva daninha. Ela se filia à idéia corrente que habita o imaginário social de que “errar é humano”. Quem estuda Qualidade de Vida no Trabalho sabe que abordagem simplista do erro humano é um equívoco, um erro. Ninguém tem dúvida de que, nas ações humanas, não alcançar os resultados desejados é sempre uma possibilidade factível. Tal possibilidade está vivamente posta nos contextos de trabalho, pois neles habitam os riscos, os perigos. Eles são inerentes à condição humana. Não é demais lembrar Guimarães Rosa: “Viver é muito perigoso”. A grande questão consiste, portanto, em como lidar com os erros nos ambientes corporativos visando à promoção da QVT. Prevenir as consequências nocivas dos erros, sobretudo prejuízos materiais, instrumentais, ambientais, é fundamental. Ainda, é mais vital prevenir os efeitos negativos sobre o que há de mais importante em uma organização: as pessoas que nela trabalham. DESUMANO Nas organizações, os erros se transformaram em demônio a ser exorcizado. Isto tem se agravado no atual cenário de globalização da economia, embalado pela reestruturação produtiva. Nas nossas pesquisas sobre Qualidade de Vida no Trabalho, quando as temáticas “produtividade” e “qualidade” são tratadas, pipocam depoimentos dos trabalhadores sobre práticas gerenciais desumanas em se lidar com os erros no trabalho: “Aqui na empresa a regra é tratar os erros com punições”; “Entrei em depressão depois que fui repreendida pela chefia na frente de todos os colegas”;
Mário César Ferreira - Pós-doutor em Ergonomia Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho pela Universidade Paris 1 Sorbonne (França) e professor associado no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do