Paulo
Mais do que um texto ou estudo exaustivo, trata-se de algumas observações, provisórias e preliminares, sobre a forma de pensar a teologia e a ação pastoral no universo urbano. Ver-se-á em seguida como cidade e urbano constituem coisas distintas, embora inextricavelmente entrelaçadas. E como a Igreja Católica – aqui nos limitamos ao campo católico – encontra-se despreparada para responder aos desafios dessa nova cultura ou mentalidade urbana. Suas estruturas canônicas, jurídicas e burocráticas, bem como seu peso histórico e organização semi-feudal, representam, não raro, um entrave ao natural dinamismo da realidade urbana.
1. Universo urbano e universo rural
O tema da Pastoral Urbana vem ganhando terreno. A pergunta clássica é: como traduzir a Boa Nova de Jesus Cristo nas cidades ou metrópoles? Aqui, de início, há um equivoco que é necessário desfazer. Universo urbano e cidade não são sinônimos. O termo universo não é gratuito. Ele configura um conjunto de idéias, valores e comportamentos que contrapõe ao universo rural. Mais do que conceitos geograficamente determinados, estamos falando de conceitos culturais. Neste sentido, os limites do mundo urbano não coincidem com os limites da cidade. Como veremos, o universo urbano se contrapõe ao universo rural enquanto duas visões de mundo distintas, mas, ao mesmo tempo, suas fronteiras não são nítidas e precisas como ocorre, geograficamente, entre cidade e campo.
Para Manuel Castells, “quando falamos de ‘sociedade urbana’ não se trata nunca da simples constatação de uma forma espacial. A ‘sociedade urbana’, no sentido antropológico do termo, quer dizer um certo sistema de valores, normas e relações sociais possuindo uma especificidade histórica e uma lógica própria de organização e de transformação”1. Já para Ulf Hannerz, “nós tendemos a definir a realidade urbana, em primeiro lugar, como um particular sistema de relações sociais e só secundariamente, e em modo derivado, como