Patrimonio e Cidade
Pires (1)
Claudio Rogerio Aurelio e Marina Veiga Scalabrini
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Quando se pensa em patrimônio, imediatamente vem à tona alguns conceitos que se cristalizaram ao longo do tempo, embora como produção histórica reelaborados constantemente, ligados à idéia de monumentalidade, excepcionalidade, antiguidade, herança social de um passado comum a todos, eliminando assim todos os conflitos e contradições. Dessa forma, imbuído da idéia de neutralidade, passa a ser encarado como sobrevivência involuntária desse passado. Esse conceito de patrimônio, compartimentado em histórico, artístico e arqueológico, privilegiou excessivamente o monumento arquitetônico, por sua materialidade, portador visível desses atributos. Durante muito tempo esse conceito prevaleceu inclusive entre os órgãos de preservação. Sobretudo nessas três últimas décadas, esse conceito se alarga, procurando abarcar as diversas representações culturais, não se limitando ao monumento arquitetônico que, agora, passa a ser visto não somente como testemunho e documento do passado, principalmente por seu aspecto físico, mas como portador de fazeres sociais, suporte da memória e inserido na dinâmica urbana e ambiental.
Dentro dessa concepção, de patrimônio cultural, o enfoque se desloca da nação para a sociedade, insere o ambiente natural nas preocupações preservacionistas e introduz a noção de patrimônio como memória, inscrevendo-o dessa forma no presente (1).
No entanto, mesmo dentro dessa nova ótica, uma questão crucial continua sendo a eleição desse patrimônio.
Afinal, essas "sobrevivências" do passado sempre foram produto de uma escolha, legitimada no presente através da generalização social do patrimônio, supondo-o único e de uma mesma significação para todos, excluindo a multiplicidade de vivências e, conseqüentemente, sua preservação e atuação no presente. Converter em vontade coletiva a memória de um grupo social