Partido alto da cultura popular
Era chão de terra batida, de barro bíblico; o poeirão subia alto, regadores diligentes socorriam o povo, que na verdade, acostumado às ruas humildes e descalças; fazia pouco caso do pó, brincando descompromissadamente feliz. As coisas eram assim, ou quase foram assim; ou ainda, a narrativa mítica imagina que tenham sido assim. Todavia, acontece que a galhardia nasceu no subúrbio distante (naqueles tempos ainda sertão), num ponto qualquer de Oswaldo Cruz. Mestre Paulo (professor ilustre) dizia com a energia que possui a candura: “todos com os pés e pescoços cobertos”. O tempo ensinou a todos, e de Oswaldo Cruz às imediações do Velho Centro, no morro e no asfalto, “todos só falavam Paulo Benjamim de Oliveira”. E, assim a escola de samba foi para a rua. O chinelo “cara de gato” sob os pés; jornais, fósforos e tamborins sob os braços. A peruca “loura” de sisal sobre a testa luzidia, contrastando com a pele preta. A “Escola” foi à rua para cumprir seu destino, e a rua lhe pertencia, de tal forma que nunca, antes, em nenhum outro momento; pudesse alguém imaginar que elas, rua e escola, viessem a existir separadamente. Jamais uma frase tão desgastada como a que será dita em seguida caiu tão bem; pois, foi posta à prova a genialidade dos simples, cuja única universidade que conheceram (ou conheciam) era a vida. Foi assim que entre atônito e extasiado, em meio ao carnaval de 1933, um articulista do jornal “A Noite” arregalando os olhos, ao mesmo tempo, que apertava os dedos contra os teclados da “remington” (como não se usa mais) tascou no papel: “Malandro é homem que a tudo sacrifica, pelo prazer espiritual de cantar. (...) E, os malandros recebendo agora, a visita da sociedade curiosa de os ver de “perto” em vez de oferecer-lhes, como em Paris, tiros e navalhadas, tratá-a com cativante gentileza[1]”.
Ah! Sim! Não se assustem com Paris e seus “apaches” de brinquedo. A referência está aqui no