Parodia de alguns contos.

Entre delírios

Quando eu era capelão de S. Francisco de Paula (conta o padre Fabio, moço bonito, com cara de galã) aconteceu-me algo de tão extraordinário que até hoje não distingui se foi sonho ou real.
Morava ao pé da igreja e certa noite recolhi-me mais tarde, mas antes de colocar os pés na bacia d’água quente e relaxar resolvi ver primeiro se as portas do templo estavam bem fechadas.
Bem fechadas estavam, mas avistei uma luz pelas frestas. Uma luz tão estranha que nem parecia real, ladrão não era não. Corri pegar as chaves.
Sinal da cruz pra dar coragem e... entrei! Devagarzinho, como criança que se esconde da mãe. Aproveitei a vassoura encostada no canto e me armei.
Abri a porta principal, de onde acontecem as missas, bem de canto pra não ser enxergado, e me deparei com uma cena tão assombrosa quanto a de uma conversa de defuntos.
Adeodato e Barnabé (a direita pra quem entra pela porta da frente da igreja) tinham descido de seus oratórios e estavam sentados nos seus altares, e nesta prosa também estavam Ambrósio de Milão, Cipriano de Cartago e Gregorio Palamas, todos no corpo e tamanho de pessoas normais. Fiquei por um tempo com o corpo paralisado, nenhum passo a mais nem a menos. E a curiosidade foi grande de saber o que se passava naquela reunião divina. Encostei-me num canto da igreja e ali fiquei atento à conversa dos santos.
Aquela conversa mais parecia uma reunião de psicólogos, eles pautavam e comentavam as confissões e situações que presenciaram como terríveis especialistas da vida alheia, aquilo mais parecia um boteco de velhos aposentados. Cada um contando de sua maneira, ora psicólogos, ora tremendos fiscais analistas de orações.
Era assim segundo o olhar de cada um. E então, em meio a críticas e análises Adeodato e Gregorio de Palamas silenciam os outros santos com sua conversa.
- Ora Adeodato, me deixaste curioso com este seu comentário, ande, nos conte esta história direito. Indaga Gregorio de Palamas, já tomado