Parafrase
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela cerveja estrela, que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar o transparente fogueira, que, da grega coluna á gótica janela, contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com irritação:
- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:
- Pesa-me esta brilhante aureola de divindade...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
Saudades - Casimiro de Abreu
Nas horas finais da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas brilham
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e bela,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessas horas quietas,
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e de dor,
O sino do campanário
Que tocas tão só
Com esse som fúnebre
Que nos enche de pavor.
Então — proscrito e solitário —
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se fecha.
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
— Saudades — dos meus amores,
— Saudades — da minha terra !
No alto - Machado de Assis
O poeta chegara ao pico da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma coisa estranha,
Uma figura má.
Então, revertendo o olhar sutil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e rude
Pergunta o que será.
Como se perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem como se fosse
Um pensamento vão,
Ariel se foi sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro cedeu lhe a mão.
Meu anjo - Alvares de Azevedo
Meu anjo tem o encanto, a maravilha,
Da espontânea canção dos passarinhos;
Tem os seios tão alvos, tão macios
Como o pêlo sedoso dos arminhos.
Triste de noite na janela a vejo
E de seus lábios o gemido escuto.
É leve a