Palavras de um ser vivo“anencefálico”
Lairto Seidler¹
“...Não foi fácil chegar até esse momento, percorri todos os meios possíveis para conseguir essa vaga para nascer nesse mundo das mais elevadas experiências que uma consciência possa conseguir. Pensam vocês, criaturas terrenas e que se dizem isentas de anomalias, o direito de barrar o meu trajeto existencial, nem que fosse curto, mas digno de relevância moral. Preciso dessa chance, humildemente, preciso reconstruir o meu corpo lentamente, motivo que nesse instante não posso explicar mais detalhes, pois não entenderão a filosofia do criador diante dessa circunstancia. Já tive que vencer uma concorrida seleção consciencial, porém consegui com meus amigos mais essa oportunidade, diga-se de passagem, nunca seremos abandonados, pois estou sendo muito auxiliado nessa batalha de formação intrauterina. Minha mãe... Espero que me perdoe, mas o meu tempo de vida, com certeza será curto. Mas deixe-me viver até que consigo ter forças, pois preciso muito desse tempo, é muito precioso para mim. Perdoe-me se a estou decepcionando... Os homens que refletem e rascunham leis dos homens, são instruídos por muitos amigos da Terra e também fora dessa dimensão. Todos nós temos o mal e o bem que andam lado a lado, cabe a cada um saber separá-los e seguir o caminho que deseja. Não somos formados de pronto, mas sim, conforme a natureza nos fornece os meios para a evolução. Tive essa oportunidade de nascer, mas se a decisão da lei dos homens prevalecerá – “Não configurando crime me abortar (me matar)”, espero que a de minha mãe querida seja pela vida”. Ser vivo anônimo, 22/04/2012.
Diante do relato acima, fictício na visão dos descrentes, e comovente dos crentes na existência da bondade suprema, configuro-me como nos últimos – em definitivo, qualquer ameaça a um ser vivo, seja em seu início ou terminal de sua existência, é repugnante, e será repreensivo em sua eterna consciência.