Ouvindo o inaudível
Para levantar as qualidades necessárias ao dirigente, é eficaz justificar razões da escolha.
Conta uma parábola chinesa que, no século III, o rei Ts’ao mandou seu filho, o príncipe T’ai, para um templo onde iria estudar sob a orientação do mestre Pan Ku. Como o príncipe iria suceder seu pai, o mestre deveria instruí-lo para tornar-se um bom dirigente. Com esse intuito, Pan Ku mandou que o jovem príncipe fosse sozinho para a floresta Ming-Li e só retornasse ao templo depois de um ano, ocasião em que deveria descrever os sons da floresta.
Um ano se passou e, ao ser questionado pelo mestre sobre os sons que ouviu, o príncipe T’ai respondeu...
— Mestre, eu pude ouvir o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas, o zumbido dos beija-flores e das abelhas e o som dos ventos.
Assim que o príncipe terminou sua descrição, o mestre mandou-o de volta para a floresta com a orientação de que ficasse atento ao que mais poderia ouvir.
Ainda confuso, o jovem T’ai retornou e, após passar quatro dias e quatro noites atento aos sons, não conseguiu identificar nenhum diferente dos que já havia ouvido. Até que certa manhã, sentado em silêncio entre as árvores, começou a discernir sons muito tênues, diferentes dos que havia percebido até então. Sentindo-se profundamente esclarecido, o príncipe voltou para o templo e, novamente abordado por Pan Ku, respondeu:
— Mestre, ao prestar mais atenção, pude ouvir o inaudível: o som das flores se abrindo, o som do Sol aquecendo a Terra e o som do capim absorvendo o orvalho da manhã.
Fazendo um gesto de aprovação, o mestre disse...
— Ouvir o inaudível é uma qualidade necessária ao bom dirigente. Somente quando o dirigente aprende a ouvir atentamente o coração das pessoas, percebendo seus sentimentos não comunicados, suas dores não expressas e suas queixas não formuladas, é que ele pode inspirar confiança, entender quando alguma coisa está errada e identificar as verdadeiras necessidades dos cidadãos.