Os deuses devem estar loucos
FILME: OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS
(THE GODS MUST BE CRAZY, 1981)
Podendo ser erroneamente considerado apenas uma comédia a la Sessão da Tarde, o filme “Os deuses devem estar loucos I” (Fig. 1), quando estudado criticamente, propicia vasto material de reflexão no que diz respeito à cultura, sociedades, etnocentrismo e tantas outras questões.
Logo no início do filme, somos apresentados aos bosquímanos, uma tribo nômade do deserto do Kalahari – em Botswana, localizado na África do Sul –, que vive isolada e ignora a presença de outros povos para além deles. Uma vez mostrada a rotina deles, é visível que são um povo pacato, amável e, num julgamento antecipado, até mesmo ingênuo.
Em sequência é mostrado também nossa sociedade, a civilização, com todo seu avanço técnológico, tempo cada vez mais curto e a adequação do espaço à humanidade, não o contrário, como se vê na tribo bosquímade.
Passadas as apresentações, a narrativa do filme tem início quando um homem – ironicamente, “civilizado” – joga de um avião que sobrevoa o Kalahari a garrafa vazia da Coca Cola que acabou de tomar. Essa garrafa é encontrada por Xi (a simpática figura da capa), que curioso, a leva para a tribo.
A tribo inicialmente se encontra maravilhada com a garrafa, visto que ela é redonda e resistente, ideal para utilização como ferramenta em diversas tarefas. Foi lovo considerara um presente dos deuses. Porém, todos queriam usar a garrafa, e isso foi criando um sentimento de posse, egoísmo e consequente violência, raiva, ciúmes nunca antes vistos pela tribo. O objeto foi então considerado uma “coisa maligna”, nome dado pelos próprios integrantes da tribo.
Xi vê-se na obrigação de se livrar do objeto e para isso começa seu percurso até o fim do mundo, onde pretende jogar a garrafa e ver-se livre daquela “coisa maligna”. É exatamente nesse percurso de Xi que temos os mais interessantes desdobramentos da história.
Podemos aqui abordar um primeiro assunto, esse relacionado ao