os desastres de sofia
Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho: - Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava.
Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. (…)
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1977, p. 11. In: PLATÃO &
FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2012.
Atividade prática
Questão 1
Na linha 4, o narrador afirma que o professor tinha “ombros contraídos”. Essa característica, fora do contexto em que está inserida, pode gerar várias interpretações, como, por exemplo:
- que o professor era velhinho;
- que era frágil fisicamente;
- que era corcunda;
- que era acovardado e submisso às pressões sociais.
Mas, levando em conta o contexto, apenas uma das possibilidades contém uma interpretação adequada. Indique qual é essa possibilidade e, com outras passagens do texto, justifique a sua escolha. Questão 2
Há várias passagens do texto em que o narrador dá a entender que o professor