Os conceitos de consciência historica e os desafios da didatica da historia
OS DESAFIOS DA DIDÁTICA DA HISTÓRIA
Luis Fernando Cerri*
Naquele tempo existiu um homem. Ele existiu e existe, pois narramos sua história. Existiu porque nós existimos. Num certo tempo existirá um homem, uma vez que plantamos oliveiras para ele e desejamos que usufrua do horto.
Agnes Heller
O trecho abaixo já foi abusivamente citado, mas devo pedir ao leitor licença e um pouco de paciência para que a tomemos novamente, de modo a introduzir a problemática desse texto. Deixemos claro que a licença é solicitada apenas pela repetição tradicional desse texto – que tornou-se pelo uso e abuso quase que uma epígrafe – e não por causa do seu célebre autor, cuja rejeição acrítica na década passada já está em tempos de ser revista.
Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses
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Professor do Departamento de História da UEPG e Doutor em Educação; lfcerri@uepg.br .
94 períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestados os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar a nova cena da história do mundo nesse disfarce tradicional e nessa linguagem emprestada.1
Neste trecho, que é dos mais famosos da obra de Marx, estão contidos de forma didática alguns pressupostos que ultrapassam a obra marxiana e a tradição marxista e inscrevem-se entre as bases da ciência histórica em construção no século XIX, seja inaugurando, corroborando, seja apenas participando da delimitação desse campo do saber. Temos aí a história como obra humana, entendida