Os cinco porquinhos
OS CINCO PORQUINHOS
(Five little pigs – 1943)
Edição Guinefort
2007
INTRODUÇÃO - CARLA LEMARCHANT
Hercule Poirot examinou com interesse a mulher jovem que era introduzida na sala. A carta que esta havia escrito não continha nada de particularmente notável. Era um simples pedido de entrevista, sem qualquer sugestão da razão de tal pedido. Era curta e precisa. Apenas a firmeza da caligrafia indicava que Carla Lemarchant era uma mulher jovem. E agora aqui estava ela em pessoa, uma jovem senhora alta e esbelta de vinte e poucos anos. O gênero de jovem para quem se olha definitivamente duas vezes. Trajava roupa de qualidade, um casaco caro, de corte impecável, uma saia e peles luxuosas. A sua cabeça assentava nos ombros com elegância, possuía uma testa quadrada, o desenho do nariz sugeria sensibilidade e o queixo determinação. Exibia uma aparência muito viva. Era esta vivacidade, mais do que a sua beleza, que lhe conferia a nota predominante. Antes da sua entrada, Hercule Poirot sentira-se tomado de uma sensação de velhice, agora sentia-se rejuvenescido, vivo, alerta. Avançando para cumprimentá-la, apercebeu-se dos seus olhos cinzentos escuros que o estudavam atentamente. Era um escrutínio diligente. Ela sentou-se e aceitou o cigarro que ele lhe ofereceu. Depois de aceso, deixou-se estar sentada a fumar, durante um ou dois minutos, continuando a mirá-lo com aquele olhar reflexivo e diligente. Poirot disse suavemente: — Sim, é uma decisão que deve ser tomada, não é verdade? Ela sobressaltou-se: — Como disse? A sua voz era cativante, com uma leve e agradável aspereza. — Está a decidir, não é verdade, se eu sou um simples vendedor de banha da cobra ou o homem de que precisa? Ela sorriu e disse: — Bem, efetivamente... não está longe da verdade. É que o senhor não... não tem exatamente o aspecto que eu imaginei, M. Poirot. — E sou velho, não sou? Mais velho do que imaginou.
— Sim, isso também. — hesitou — Estou a ser franca, compreende?