Orientação para análise do poema ''gato que brincas na rua'' de fernando pessoa ortónimo
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Análise por estrofe
Na primeira estrofe:
- O sujeito poético inveja a sorte do gato; a sorte de ser inconsciente e de poder ser feliz.
Temáticas:
Oposição consciente/inconsciente
‘’invejo a sorte que é tua’’
Nostalgia da infância
‘’Gato que brincas na rua/Como se fosse na cama’’
Aspectos linguísticos
-Predominância de verbos: presente do indicativo
Recursos estilísticos:
Aliteração: q/c ‘’que’’/’’brincas’’/’’como’’/’’cama’’/’’porque’’ (confere uma leve musicalidade ao poema.
Comparação: Gato que brincas na rua/Como na cama que é tua
Na segunda estrofe:
- O gato surge como ‘’bom servo das leis fatais’’ (assume o seu destino);
- O homem é incapaz de ter a mesma ‘’atitude’’ de um homem;
Temáticas:
Intelectualização de sentimentos ‘’e sentes só o que sentes’’
Oposição consciente/inconsciente ‘’Que tens instintos gerais/E sentes só o que sentes’’
Aspectos Linguísticos:
- Abundância de adjectivos (bom, fatais, gerais)
- Verbos no presente do indicativo
Recursos Estilísticos
Anáfora ‘’Que regem…/Que tens instintos…’’
Repetição ‘’Só sentes o que sentes’’
Aliteração ‘’leis’’/‘’fatais’’/‘’pedras’’/’’gentes’’/
Assonância ‘’E sentes só o que sentes’’
Na terceira estrofe:
- Conhece-se a razão de inveja por parte do sujeito poético;
- Plena consciência de que é infeliz;
- O gato consegue atingir essa felicidade.
Temáticas:
- Incapacidade de auto-definição
‘’Eu vejo-me e estou sem mim/Conheço-me e não sou eu’’
Fragmentação do eu
‘’Eu vejo-me e estou sem mim’’ ‘’Conheço-me e não sou eu’’
Aspectos linguísticos:
- Abundância de verbos;
- Vocabulário disfórico: ‘’nada’’; ‘’não’’; ‘’sem’’