Fernando pessoa
Regresso à Terra
Uma análise dos poemas de Álvaro de Campos
© 2007-2011 Nuno Hipólito
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Ricardo Reis
Introdução
Álvaro de Campos, o modernista, o reaccionário, o espírito rebelde dentro do calmo e previsível corpo do poeta calmo e acomodado a uma vida serena de um quotidiano frequentemente adormecido. Se Reis e Caeiro atestam experiências de afastamento do seu criador Fernando Pessoa, Campos é precisamente o oposto: é a proximidade1. Se Caeiro não era nada, Campos é tudo. Se Reis correu de encontro a um horizonte sempre distante, Campos dilacera -se na luta quente dos sentimentos próximos, das sensações inebriantes, reais ou imaginadas.
Se pudéssemos desenhar um poeta que sofresse com a realidade das coisas, esse poeta seria
Álvaro de Campos. O seu espírito queima em inquietude – não é porventura Soares que mais sofre com a sua própria existência, pois em Soares tudo parece ponderado em vez de vivenci ado.
Campos existe! Campos é!
Como analisámos anteriormente, podemos agora dizer que com Campos se fecha de certo modo o ciclo de experiências com as divindades:
Caeiro quis todos os deuses, de maneira pagã, de modo a não ter nenhum.
Reis quis todos os deuses, de maneira clássica de modo a focar-se em si mesmo.
Campos vai procurar o deus da modernidade – a ciência.
Mas com que objectivo quererá Campos a ciência? Certamente, como os seus “colegas heterónimos”, para justificar a sua própria existência. Por isso a sua crença na modernidade é desde o princípio falsa – os seus motivos são claramente egoístas, mesmo quando Campos fala do avanço da humanidade o que o motiva é o próprio avanço da sua investigação.
Assim podemos compreender que este heterónimo seja o único a viver fases distintas. Campos inicia lentamente a sua obra para depois conhecer um entusiasmo quase despropositado, sendo que mais tarde vai cair numa apatia totalmente inesperada para quem mostrava um entusiasmo
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