Observáveis, coordenações, leitura e jogo:
TECENDO LAÇOS
Lino de Macedo
Instituto de Psicologia, USP
Academia Paulista de Psicologia
2011
Em “A tomada de consciência” e “A equilibração das estruturas cognitivas”, dois termos ganharam grande prevalência na teoria de Piaget (1974 e 1975, respectivamente). Para este autor, observar e coordenar se tornaram a síntese do necessário, possível ou impossível em nossas relações interdependentes com as coisas. Sem eles e suas múltiplas interações, como construir conhecimentos? Em verdade, ele não diz observar, mas observáveis. O que significam observáveis e coordenações? Nosso objetivo, aqui, é responder a esta pergunta. E o faremos utilizando aspectos da leitura e do jogo como exemplos.
Segundo Salles (2002, p. 167), observar é o mesmo que “proteger e guardar”. “Observar é proteger, porque é guardar”. Seus sentidos clássicos são “prestar atenção”, “reter”, “vigiar”. Observar tem valor de conhecimento, porque qualifica o observado, conferindo-lhe um grau de “nobreza” (admirável). Para este autor, “nobre, do latim nobilis, quer dizer ‘o que merece ser conhecido’... Seu oposto é ignóbil, desprezível, indigno de ser conhecido”. (p. 165) Estas significações são interessantes, porque nos lembram da qualidade afetiva do observar, para conhecer. Nossas observações dependem de dois aspectos, um, cognitivo, relativo ao procedimento (como observar?), e outro, afetivo: Por que?, o quê?, para quem? Segundo Piaget (2001), por exemplo, o período sensório motor, cognitivo, corresponde, em paralelo, ao estádio dos “afetos perceptivos”. Aqui, observar é querer ver, ouvir, pegar, tocar, sentir, ao preço de construir procedimentos (esquemas de ação), que otimizem esta necessidade. É querer guardar com as sensações e motricidade as coisas do mundo que interessam ou chamam a atenção da criança. É aprender a admirar as coisas que cercam a criança e preenchem seu mundo.
As significações de observar se relacionam ao