Obras contra seca
FERREIRA, Angela Lúcia; MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo; SIMONINI, Yuri
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao expor sua opinião durante palestra realizada no Clube de Engenharia, em 1919, o engenheiro Aarão Reis[1] relembrou um trecho de seu relatório apresentado ao Governo Imperial – a pedido do então Ministro da Fazenda, Francisco José Saraiva –, em 1885, no qual enfatizava uma ação sistematizada contra as estiagens prolongadas no Nordeste brasileiro, nos mesmos moldes de quem se prepara para combater um inimigo:
Penso que a rejião semi-árida do Brazil deve de merecer dos Pôderes Públicos Nacionais atenções análogas ás dispensadas, com justo motivo, a das nossas fronteiras do sul; porquanto, si nestas são de necessidade e urjencia certas obras sistematizadas de estratéjia contra a possibilidade de guerra[2] (...), naquela não menos indispensáveis e urjentes são, também, certas obras sistematizadas de estratéjia contra a probalidade de secas periódicas. (REIS, 1920, p.236, grifos do autor). [3]
A irregularidade das chuvas na região Nordeste e seus problemas decorrentes eram conhecidos pelas autoridades governamentais desde o período colonial. Porém, a negligência de ações, em parte, se deu por questões econômicas, uma vez que se privilegiava o cultivo e beneficiamento da cana-de-açúcar – principal produto de exportação da América Portuguesa – que ocorria na faixa litorânea com chuvas mais regulares e solo propício. O sertão[4], até então escassamente “colonizado” e com incipiente importância produtiva, não figurava na pauta de ação de Portugal, relegando-o ao “esquecimento”. Instaurado o governo imperial – após a independência em 1822 – a política de interiorização promovida por D. Pedro II, se deu a partir da construção de estradas de