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O filme Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981), conta a história real destes dois velocistas que acalentavam o sonho de participar dos Jogos Olímpicos, ainda que por motivos diversos. Abrahams corre por amor, mas também por auto-afirmação: ser judeu em um país de maioria cristã é um fardo, que o coloca numa posição defensiva e beligerante a todo o momento. Se mesmo dentro da Universidade de Cambridge, da qual é aluno, ele não escapa das provocações - e dos comentários do próprio reitor, cheios de irônico preconceito -, Abrahams tem convicção de que a imposição de sua conquista lhe trará o devido respeito.
Já Eric Liddell corre “em nome de Deus”, este argumento tão utilizado desde sempre pela humanidade, para justificar suas ações, grande maioria de atrocidades. Aqui, pelo menos, Liddell julga a causa nobre: trazer de volta a fé das pessoas. Ex-atleta, ele transforma suas missões em verdadeiros espetáculos, correndo, literalmente, para atrair os fiéis. Em uma delas, seu discurso comparativo entre a fé e a participação em uma corrida é feita de forma serena e veemente a um só tempo, iluminado ao término por um sol radiante, onde antes havia uma tempestade, como em um sinal de divina aprovação. E Ian Charleson leva o seu Eric Liddell com um carisma (in)crível (e não o perde nem quando, apegado à tradição, ele se recusa a participar de uma prova de velocidade que seria realizada num domingo, o dia sabático em que se guarda descanso), construindo talvez o personagem mais sólido do filme.
Carruagens de