nao sei
Não sei, ama, onde era,
Nunca o saberei...
Sei que era Primavera
E o jardim do rei...
(Filha, quem o soubera!...).
Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha,
Porque era tudo meu?
(Filha, quem o adivinha?).
E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar...
Flores de tantas cores...
Penso e fico a chorar...
(Filha, os sonhos são dores...).
Qualquer dia viria
Qualquer coisa a fazer
Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é morrer...).
Conta-me contos, ama...
Todos os contos são
Esse dia, e jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão...
Análise:
Inicia com “Não sei, ama, onde era”, é poema ortónimo de Fernando Pessoa, aquele que popularmente é conhecido como o “grande poeta português do chapéu e da bengala”, datado de 23 de Maio de 1916. O poema é composto por 24 versos agrupados em 5 estrofes. Estas estrofes são quintilhas, e apenas a ultima é quadra. Os versos são redondilhas maiores pois tem 7 silabas métricas. A rima é cruzada em todo o poema.
Com este poema, o poeta retrata-nos a dor de pensar (“penso e fico a chorar”) e a Nostalgia da infância perdida, sendo a narrativa de um sonho, expressa num diálogo entre o sujeito poético, que representa o mundo da infância com a discussão do sonho de ter sido feliz, e a ‘Ama’, que representa o mundo da idade adulta onde se adquire a consciência, unida á dor de pensar e á perda.
Podemos também ouvir o poema em : https://www.youtube.com/watch?v=FnzPXVgGxoE
“Urgentemente” de Eugénio de Andrade
É urgente o amor
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer. Em “Até Amanhã”
Análise:
Este poema de Eugénio