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Estudos Avançados
Print version ISSN 0103-4014
Estud. av. vol.17 no.48 São Paulo May/Aug. 2003 http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142003000200024 HOMENAGEM Raymundo Faoro historiador
Fabio konder Compatato
Há dois grandes tipos de historiadores, correspondentes às duas grandes maneiras de se tratar intelectualmente o material histórico: os pesquisadores e os explicadores. Os primeiros perquirem os fatos acontecidos, buscando reproduzi-los do modo mais fiel possível. Os segundos procuram compreender o sucedido no tempo histórico, apontando as causas e um determinado sentido. No primeiro caso, temos aquilo que os franceses denominamhistoire événementielle, de caráter microscópico; no segundo, uma visão mais abrangente, de tipo macroscópico. De acordo com este último padrão de análise, os historiadores recolocam os fatos no seu contexto, tomam-nos como parte de um todo, fora do qual perdem significado, como a própria etimologia do verbo compreender nos indica: cum prehendere, tomar conjuntamente.
A historiografia compreensiva, por sua vez, subdivide-se em duas espécies: a conjuntural e a estrutural, conforme o historiador leve em conta o curto ou o longo prazo. É esta última que, no século XIX, sob a influência de Hegel, chamava-se Filosofia da História. O seu intento é desvendar os fatores permanentes – as invariantes – que atuam como causas profundas dos sucessos históricos. O materialismo histórico de Marx, que ele pretendeu ser ciência e não filosofia, enquadra-se perfeitamente nessa espécie de História compreensiva estrutural, ou de longo prazo.
Raymundo Faoro, que acaba de nos deixar, inscreve-se na categoria dos pensadores que procuram interpretar a História sob o aspecto estrutural. A razão do impacto que a sua obra Os donos do poder – Formação do patronato político brasileiro causou em nosso meio intelectual, é que, contrariamente à visão marxista, dominante à época na historiografia de tipo estrutural, ele não procurou a