Nutrição e alimentação em saúde Indígena
Maurício Soares Leite
Um tema que vem ganhando espaço nas discussões sobre a situação dos povos indígenas de nosso país, e mais especificamente sobre suas condições de saúde, diz respeito à alimentação e nutrição deste segmento da população brasileira. Os debates não se restringem mais aos ambientes acadêmicos ou aos fóruns políticos, mas chegam, ainda que esporadicamente, aos meios de comunicação de massa. Infelizmente, isto acontece geralmente em situações dramáticas, como no caso das mortes, por desnutrição, de crianças Guarani em Mato Grosso do Sul, há poucos anos atrás (Leite e Santos, 2005). Aí, a mobilização é imediata. Responsabilidades individuais, institucionais ou partidárias são apuradas, e soluções – adequadas ou não – são rapidamente apresentadas e colocadas em prática. Contudo, tão rapidamente quanto surgiram, estes debates na grande mídia desaparecem, e dão lugar a outros temas.
De “Saúdes” e “Alimentações”: pela legitimidade de discursos distintos
Quando se fala em nutrição, via de regra isso deve ser entendido como uma dentre muitas possíveis perspectivas sobre a alimentação indígena e suas relações com as condições de saúde destes povos. Em geral isso é feito a partir de uma perspectiva muito particular, ocidental, que chamaremos aqui de “biomédica”. Isto é, quando falamos de nutrição, estamos falando de um ponto de vista determinado e muito específico; de uma introdução ao tema junto de ideias partilhado, pelo menos teoricamente, pelos profissionais de saúde que, em nosso país, prestam atenção à saúde indígena.
E como as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena incluem os Agentes Indígenas de Saúde, não podemos nos esquecer de que estes são treinados nas estratégias de formação e capacitação profissionais, dentro do que chamamos de biomedicina, mesmo que, como nativos, partilhem com seus povos outros conceitos sobre o mundo e, mais