Numa terra de voduns, encantados e orixás
Antonio Evaldo Almeida Barros
As manifestações relacionadas à religiosidade popular e negra enfrentam, sobretudo até início dos anos 1950, uma forte campanha de perseguição acompanhada de um arsenal de representações negativas. Ao mesmo tempo, em meio às perseguições e depreciações, percebe-se que alguns elementos daquelas manifestações, ao mesmo tempo em que obtêm uma conquista simbólica, pois passam a ocupar um dado lugar no conjunto discursivo que define a identidade regional (identidade maranhense), tornam-se reconhecidos e prestigiados socialmente, em diferentes contextos, intensidades e níveis. Este processo foi lento e descontínuo, mas efetivo, e se deu em meio a múltiplas interações e conflitos sociais. O fato mais evidente da religiosidade popular e negra no Maranhão é sua força e diversidade, espalhando-se por diversas regiões do estado. Em meados do século XX, destacavam-se nesse complexo e múltiplo panteão religioso o tambor de mina e a pajelança. Tambor de mina é o nome dado sobretudo no Maranhão a cultos religiosos de origem africana, também presentes em outros estados do Brasil, como o candomblé na Bahia, o xangô em Pernambuco e o batuque no Rio Grande do Sul, bem como em outros países da América Latina, como a Santería, em Cuba, e o Vodun, no Haiti. O tambor de mina faz referência aos “negros minas”, denominação genérica dada aos escravos trazidos de regiões da África ocidental, muitos dos quais embarcavam no forte de El-Mina, atual Gana (ASSUNÇÃO, 1999b). Como em outras religiões afro-brasileiras, o tambor de mina abriga nações ou modalidades rituais cuja origem se associa a povos distintos, a exemplo dos jeje, nagô, cambinda, cacheu e fulupa, nomes presentes na memória do povo-de-santo maranhense (PACHECO, 2004, p. 48). Entretanto, apenas duas destas nações se cristalizaram e perpetuaram como identidades religiosas demarcadas com certa nitidez, a mina jeje e a mina