Nove Contos
Era uma dessas moças que não se afobam nem um pouquinho porque o telefone está tocando. Dava a impressão de que seu telefone estava chamando desde o dia em que atingira a puberdade.
Com o pincelzinho de esmalte — enquanto o telefone tocava — retocou a unha do dedo mínimo, acentuando a meia-lua. Feito isso, tampou o vidro de esmalte e, levantando-se, ficou abanando a mão esquerda para fazer o esmalte secar mais depressa. Com a outra mão apanhou de cima do sofá um cinzeiro cheio até a borda e o levou até a mesinha de cabeceira, onde estava o telefone. Sentou numa das camas-gêmeas, que a essa hora já estavam arrumadas, e — era a quinta ou sexta vez que o telefone tocava — levantou o fone do gancho.
— Alô — disse, mantendo os dedos da mão esquerda bem estendidos e afastados de seu robe de seda branca, que era tudo que estava vestindo, além dos chinelos. Os anéis estavam no banheiro.
— Sua ligação para Nova York está pronta, Sra. Glass — a telefonista anunciou.
— Obrigada — a moça respondeu, abrindo lugar para o cinzeiro na mesinha de cabeceira.
Ouviu-se uma voz de mulher.
— Muriel? É você que está falando?
A moça afastou ligeiramente o fone do ouvido. —Sou eu sim, mamãe. Como vai você?
— Tenho estado preocupadíssima com você. Por que você não me telefonou? Você está bem?
—