Notas para um genealogia
Enquanto o social for tomado como um fato natural fundado sobre o senso comum, as respostas a esse tipo de questão apenas produzirão paralogismos. Parece-nos que, para sair desse impasse, é preciso em primeiro lugar deixar de tomar o social como uma evidência e passar a constituí-lo como um problema, isto é, deixar de tomá-lo como um fato natural intrínseco ao próprio modo de existência da vida humana e passar a constituí-lo como uma multiplicidade necessariamente construída a partir de uma relação de forças num campo historicamente dado. Se o social confunde-se com a qualificação daquilo que constitui uma característica própria às relações humanas, é precisamente porque essa dimensão histórica é negligenciada em favor de uma coordenada estritamente espacial que reduz a complexidade do social às simples relações que ligam os indivíduos ou àquilo que eles partilham entre si e que constitui seu espaço comum.
Quando deixamos de considerá-lo como uma evidência e passamos a constituí-lo como um campo problemático, vemos que o social é essencialmente um objeto construído e produzido a partir de diferentes práticas humanas e que não cessa de se transformar ao longo do tempo. podemos dizer que toda resposta à pergunta "o que é uma psicologia social?" é apresentada como algo que preexistiria à própria questão; como se fosse possível saber de antemão a resposta, já que todos estão de acordo que as relações sociais fazem parte da experiência humana. Assim, os psicólogos sociais passam a construir seus sistemas teóricos apoiados unicamente sobre uma evidência fundada no senso comum, sem perceberem que o conjunto questão-resposta pertence desde já a uma problemática que condiciona tanto uma quanto a outra.
Da mesma maneira, dificilmente encontraremos entre os psicólogos sociais uma discussão sobre as condições de possibilidade para a criação de um campo de conhecimentos em torno daquilo que se convencionou chamar de