Dialnet APresencaDeNietzscheNaObraDeFoucault 3655201
7919 palavras
32 páginas
A presença de Nietzsche na obra de Foucault: mais do que uma afinidade filosóficaLuiz Celso Pinho*
Resumo: As referências a Nietzsche proliferam de tal forma ao longo dos quase trinta anos de produção teórica de Foucault que fica evidente o forte elo que há entre ambos. Além disso, um exame atento das análises foucaultianas sobre a emergência de um saber sobre o indivíduo na modernidade revela que existem, do ponto de vista programático, afinidades consistentes. No entanto, deixar de levar em conta eventuais dissonâncias ou mesmo antagonismos resulta, ao mesmo tempo, numa abordagem superficial e incompleta. É justamente o que se buscará evitar neste ensaio.
Palavras-chave: Afinidades; Arqueologia; Dissonâncias; Genealogia
Abstract: The references to Nietzsche proliferate in such a way along the almost thirty years of Foucault’s theoretical work that is evident the strong link between them. Moreover, a careful examination of Foucault's analysis on the emergence of a knowledge about the individual in modern times shows that there are, from a programmatic point of view, solid affinities. However, do not taking into account any dissonances or even antagonisms result, simultaneously, in a superficial and incomplete approach. It is precisely what will look for to avoid in this paper.
Keywords: Affinities; Archeology; Dissonances; Genealogy
1 Introdução
A data é vinte e nove de maio de 1984. Michel Foucault, ao ser levado a falar dos filósofos que lhe parecem imprescindíveis, naquela que será a derradeira de tantas entrevistas, acaba declarando: “sou simplesmente nietzschiano, e tento ver, na medida do possível, sobre certo número de pontos, com a ajuda de textos de Nietzsche – mas também com teses antinietzschianas (que são completamente nietzschianas!) o que se pode fazer neste ou naquele domínio”. 1 Num primeiro momento, essas palavras,
*Professor adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesquisador APQ-1 da
FAPERJ. E-mail: lucepi@uol.com.br. Artigo