No tempo dividido
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919 e faleceu em Lisboa a 2 de Julho de 2004. Da infância feliz passada no Porto ficaram imagens que estão presentes, de forma explícita ou alusiva, em todas as suas obras poéticas e ficcionais, particularmente nos contos para crianças.
Entre 1936 e 1939 frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Familiarizou-se assim com a civilização grega, que profundamente admirou e que aparece também espelhada na sua obra, seja em poemas que glosam motivos helénicos, seja naqueles que, dum modo mais geral, recuperam as noções clássicas de harmonia, inteireza e justiça. O ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, ajuda-nos a compreender melhor a identificação de Sophia com o mundo clássico: embora tenha como objecto a arte grega, e em particular a representação do corpo entre os gregos, pode ser lido como mais uma das “artes poéticas” em que a autora explicita algumas noções fundadoras da sua própria poesia.
Sophia colaborou na revista Cadernos de Poesia e aí fez sólidas amizades. A primeira série dos Cadernos saiu em Lisboa entre 1940 e 1942, tendo por organizadores Tomaz Kim, José Blanc de Portugal e Ruy Cinatti. Sob o lema “A Poesia é só uma”, repetido no limiar de cada número ao longo das três séries, a revista defendeu a vocação ecuménica da Poesia, sublinhou a independência do ideal estético relativamente a escolas ou partidos e admitiu eclecticamente a colaboração de artistas provenientes dos mais diversos quadrantes.
Em 1944 o primeiro volume poético de Sophia, intitulado Poesia. Editado no ano em que autora completou vinte e cinco anos, mas incluindo alguns poemas escritos ainda no final da adolescência, Poesia é um livro inaugural a vários títulos.
Depois do casamento, em 1946, com Francisco Sousa Tavares, a poesia de Sophia tornou-se mais interveniente e atenta às questões sociais do seu tempo. Paralelamente, Sophia teve uma actuação