Nietzsche e a interpretação: do mundo ao texto
Vânia Dutra de Azeredo
A Questão
A problemática concernente à interpretação, tanto do mundo quanto do texto, é central para a Filosofia, já que a resposta que se dê a essa questão remete, por um lado, a anuência ou não acerca da possibilidade de atingir uma determinada realidade e, por outro, a aceitação ou a rejeição da objetividade no que concerne à leitura do texto filosófico. Ora, sem sombra de dúvida, a posição que se venha a tomar é determinante da leitura do mundo e do texto em termos diretos do estatuto do fazer filosófico. O pensador Nietzsche vem justamente introduzir, enquanto interpretação, uma resposta a nossa primeira indagação ao afirmar que existem somente interpretações. Assim, o valor do mundo residiria exclusivamente em nossa leitura dele, não havendo realidade à qual possamos fazer referência de modo independente do olhar humano, demasiado humano. Há de se acrescentar que esse olhar, para o filósofo alemão, não provém de uma unidade subjetiva como regente, mas da introdução do conceito abrangente de regência endereçado ao corpo. Corpo esse entendido como estrutura social de muitas almas. No limite, quem interpreta são impulsos, forças, vontades de potência. O primado da interpretação é, desde essa ótica, não consciente.
De outra parte, partindo do aparato conceptual nietzschiano, podemos refletir acerca da possibilidade efetiva de adentrar o texto, compreender o texto enquanto encontro de duas assinaturas, a do autor e a do leitor. Se só temos um ver perspectivo, um conhecer perspectivo, tanto o mundo quanto o texto são uma auto-expressão do olhar do leitor. Não haveria objetividade ou compreensão independente de uma prévia imposição de olhar. E isso de tal modo, que mesmo a tradução já seria uma auto-expressão do tradutor. Não há inocência diante do texto, isto é, ausência de elementos presentes no leitor enquanto manifestam o conjunto das suas vivências. São elas que se refletem