neuro etica
Raul Marino Júnior
Resumo Este artigo discorre sobre o substrato anatômico e neurofisiológico no cérebro desperto que estabelece a normalidade ou o patológico de nossos atos, escolhas, decisões, resolução de dilemas éticos, caráter, emoções e consciência moral, os quais dependem de sistemas e áreas específicas. Para isso, utiliza pesquisas da moderna neuroimagem e testes neuropsicológicos que mapeiam as áreas cerebrais. Dentre essas, os lobos frontais, o sistema límbico, o giro cíngulo, a amígdala temporal e o hipocampo, cuja análise neurofisiológica demonstra que regulam o controle da normalidade psíquica, o autocontrole e, também, o controle da agressividade, violência, livre-arbítrio, responsabilidade e doença mental. Conclui que, se lesadas, essas áreas produzirão respostas anormais ou patológicas nos âmbitos da cognição, julgamento moral e pensamento ético.
Palavras-chave: Ética. Neuroética. Neurociências.
Raul Marino Júnior
Professor titular emérito de
Neurocirurgia da Faculdade de
Medicina da USP, professor livredocente de Bioética da Faculdade de Medicina da USP - Instituto
Oscar Freire, membro da
Neuroethics Society (USA) e presidente do Instituto Brasileiro de Ética e Bioética (Ibraeb)
Julgamos oportuno trazer este tema aos médicos brasileiros, por meio desta revista, no intuito de rever alguns conceitos básicos, muitas vezes esquecidos, sobre os mecanismos cerebrais ou neuropsiquiátricos que regem a consciência, a inteligência, o comportamento e a conduta: nosso cérebro – e não o coração, como querem os literatos e os poetas –, o qual é, sem dúvida, a sede do que consideramos ser a nossa humanidade, nossa pessoalidade, bem como da ética, da moral, das emoções e sentimentos, do que é certo ou errado, bom ou mau. O cérebro nos torna únicos como indivíduos e nos empresta nossa personalidade, individualidade, caráter, ideais, memórias, habilidades criativas e nosso Eu ou self, nossa mente e tantas outras