Nem Carne, Nem Pedra - Introdução
A tela hipnotiza, anestesia o corpo que não se faz presente por enteiro no espaço.
A ágora social instaurada pelo facebook evidencia as várias vozes da esfera pública. [Quase] sem distinção, os corpos podem enfim gritar para o mundo, transformando o espaço físico numa trivialidade escamoteada pela sua falta de potencial social.
O corpo quer falar, quer ser ouvido; quer assistir e ser assistido, entretanto, na cidade o corpo não fala, não vê, não ouve.
A privação que o corpo sofre, ganha força e liberdade na ágora moderna. No espaço das redes sociais, ninguém pode impedir o indivíduo de ser alguém, exceto ele mesmo. Pelo contrário, as pessoas precisam de mais e mais espetáculos para suas vidas, e ser alguém para o outro, nas redes sociais, é ser interessante, é ser espetáculo.
Curta seu filme favorito, curta sua comida favorita, curta seu cachorro favorito, curta seus livros favoritos, curta sua série favorita, curta, curta, curta, curta, curta... Depois de “curtir a doidado”, saciando todos seus desejos nunca desejados, você constroi o seu ser baseado em conceitos que essas curtidas transmitem. Cria-se, pois então, uma forma de relacionar-se com o outro através de engajamento, onde idéias tomadas como verdades, através da curtição, podem ser reconhecidas pelo outro também como tal. Essa troca de idéias possibilita que se inicie o jogo, onde muitas vezes a frase “’Fulano de tal’ quer ser seu amigo no Facebook” é protagonista dessa largada.
Cria-se redes ‘de amizade’ para saciar o desejo social que o homem ignora na sua construção da realidade. Porém, não é difícil ver a superficialidade que tal rede cria nas relações sociais. Percebe-se que os nós desta rede, na verdade, nada atam. Mas a existência da rede é uma potencialidade para mudança no sistema.
Mesmo que o invíduo passe a espetacularizar toda sua vida