Nelson e SAnto Agostinho
Santo Nelson, d'ápres Santo Agostinho
“O desejo de ascender ao paraíso está tão enraizado no homem quanto a sua irrecuperável tendência a se precipitar no inferno”
Luis Arthur Nunes
Quase ninguém saberá de quem se trata se nomearmos como admirado filósofo o senhor Agostinho de Hipona. Mas ninguém ignorará o mestre se o nomearmos simplesmente Santo Agostinho. Ele é o célebre autor da frase muitas vezes citada na forma "Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje", o santo pecador, o teórico do amor, aquele que escreveu as Confissões e, na obra A Cidade de Deus, assentou as estruturas teológicas da Igreja Católica Apostólica Romana. Isso em termos básicos, é claro, pois, como sabemos, somente estudiosos e especialistas conhecem a obra de Agostinho além do mero "ouvi dizer", o que, de resto, é aceitável, como também é o fato de todos possuírem igual referência da Teoria da Relatividade, Teoria Quântica, dos Escritos de Economia Política, A Origem das Espécies, etc.; listagem que poderíamos levar ao infinito.
Se falarmos de Santo Nelson, nenhum católico devoto levará o nome à pessoa, pois não existe, até manifestação em contrário, nenhum Santo Nelson entre os canonizados pela Igreja Católica. Alguns poderão aventar a possibilidade: "Falas de Nelson Rodrigues?". Sim, falamos de Nelson Rodrigues, o dramaturgo, romancista, contista e cronista brasileiro, santo para alguns poucos admiradores, e muitos desses o investiram como tal não por sua proverbial "santidade", mas pelo que lhe seria inverso. Mas não é. Talvez poucos percebam que Nelson Rodrigues tem como centro de suas preocupações éticas e estéticas os conceitos católicos, principalmente aqueles estabelecidos por Santo Agostinho. Somando este último à literatura russa (Dostoiévski e Tolstói) e ao teatro grego antigo, temos nosso autor, que nunca aspirou à santidade, nem se pretendeu bispo, mas ajudou a propagar e tornar mais citável ainda o nome do "santo pecador".