Negação
Isadora Seither Goularte
Sempre ronda algo em nosso pensamento que nos tira o sono e o sossego; algo que se deseja desesperadamente e que não se pode gritar aos quatro ventos. Apenas o seu silêncio sabe.
Nada mais. Algo que a negação substitui por outro algo, outro alguém, mais supérfluo, mais artificial, menos intenso, menos você.
A negação pode recuperar seu sono, sua fome, mas nunca recupera a vida que se deseja; a felicidade que o completa; o fogo que arde invisivelmente em seu grito; o enigma de palavras que o aconchegam.
Sempre há um mistério...
Sempre há o mistério.
A negação dá conta do mistério... Até desistir por fraqueza de seu miocárdio ou por um súbito aneurisma de sua aorta torácica. E não adianta se aconchegar na negação. Ela mente. Ela engana. Ela trapaceia. Ela suga suas forças. Ela o derruba.
É uma falácia acreditar que se esqueceu e que está tudo bem. Que deveria estar tudo bem.
Simplesmente, é uma falácia acreditar em seu consciente.
Mais uma vez, sufocadamente, relutante, seu inconsciente quer jogar com o mistério, colocálo contra parede, roubar suas palavras, descobri-lo, derrotá-lo, ganhá-lo e, então, eternizá-lo.
O jogo começa.
E mais uma vez, é mais uma vez.
Mais uma vez, empata-se com o mistério.
E então... ele, o pecado platônico, o consome, lenta e subitamente.
A dor é tanta que se tem vontade de gritar para os quatro ventos; apenas para aliviar, para amenizar o estrago, para ceder ao negro véu sua alma. Quando se já é o torpor, o véu negro, a redenção... o paraíso se rende aos seus pés com o olhar negro hipnotizador e se é tomado por uma estranha força, que o faz querer estar vivo e viver.
O mistério é o meu carma. Eu sequer sabia pela negação. E um dia, o carma sempre nos acha.
Por isso, não se refugia dele. Por mais amargo que ele seja, ele sempre aparece.
E quando aparece, os holofotes se apagam, a cortina se fecha e todos se rendem. Porque, dessa vez, nesse jogo, há um vencedor. Sem mistérios,