navegantes vindos da europa
Nas caravelas dos descobrimentos, a busca por aventura, fama e fortuna fazia os marinheiros passarem por maus bocados
Fábio Pestana Ramos
Gravura de Alfredo Roque Gameiro (1864 - 1935) reproduz o interior de uma nau portuguesa: hierarquias diluídas na convivência em alto-mar.
Fome, sede, doença e estupro eram apenas algumas das palavras incorporadas ao cotidiano dos navegantes nos séculos XV e XVI. Fugindo de uma vida dura na Europa, centenas de homens embarcaram nas caravelas dos descobrimentos. Alguns buscavam enriquecimento rápido e fama; outros, penitência pelos pecados e oportunidade de difundir a fé em Cristo. Eram atraídos pela brisa do mar e pela aventura, encontrando uma existência repleta de surpresas nem sempre agradáveis.
Dentre os obstáculos que precisaram ser vencidos para desbravar os mares, nenhum supera a dureza do cotidiano nas caravelas. Os tripulantes eram confinados a um ridículo espaço que impedia qualquer tipo de privacidade. Os hábitos de higiene eram precários. Proliferavam insetos parasitas: pulgas, percevejos e piolhos. O mau cheiro se acumulava, tornando-se insuportável em pouco tempo. Além disso, havia o perigo constante de naufrágio e a possibilidade de serem mal recebidos pelos nativos. Ainda assim, apesar de todas as mazelas, a vida no mar podia ser instigante: encontrar novas terras e gentes, escapar da rotina.
A rígida separação que existia na Europa entre nobres e plebeus, com leis distintas para cada categoria, era atenuada no universo marítimo. Só o mar podia proporcionar a quebra de hierarquia que dificilmente ocorreria em terra, num continente dominado pelos títulos de nobreza que separavam aqueles com sangue azul da imensa maioria da população. Os perigos e o limitado espaço para circular a bordo estimulavam a camaradagem, o que podia servir, inclusive, como meio de ascensão social.
Não foram poucos os escudeiros e simples marujos que, por mérito, acabaram agraciados com títulos de nobreza