MÚSICA
JOSÉ EDUARDO MARTINS
"Dir-me-eis: — Esta é a tua Ilha porque é nela que depositas c interiorizas todas as tuas geográficas inquietações."
(Heitor H. Silva, poeta açoriano)
o amplo catálogo das culturas brasileiras, a cultura erudita das
Artes situar-se-ia entre as que mais sofrem as transformações generalizadas ocorridas no século XX. Constantes comuns a cada segmento das Artes revelam o filtrar diferenciado dos contínuos e cada vez mais acelerados choques por que passa a área, uma das mais criativas do pensamento humano.
N
A cultura erudita musical, em sendo um compartimento vivo, estático e volátil, materializado e fluido, tem toda uma série de elos que apenas dimensionam a interdependência. Sob outro aspecto, os limites fronteiriços entre a criação erudita e a genuinamente popular — entenda-se nascida na interioridade de um povo, sem agentes voluntariamente pressionantes — podem ser tênues, havendo, por parte da primeira, incursões profundas em território popular, a resultar sempre um enriquecimento.
O mergulho na cultura musical de povos outros, realizado pela etnomusicologia, traz em seu emergir muito mais do que a preservação, o descortino da contribuição para os estudos eruditos. A contrapor-se às culturas musicais erudita e popular, surgiria em progressão geométrica, mais precisamente na segunda metade do século, uma cultura oriunda da mass communication e que poderia, inclusive, ser entendida como uma cultura musical de massa, hoje no pleno trajeto da irreversibilidade.
O confronto inevitável entre estas três culturas revelou-se, no
Brasil, rigorosamente desigual e favorável à cultura musical de massa, por motivos vários, provocando o lento desestímulo à música erudita e destruindo a popular autentica, atingidas pelo impacto da industria cultural moderna. Para a música erudita ou de concerto, faz-se relevante buscarem-se determinados