Música
É uma verdadeira praga. Está em todos os lugares, em todos os momentos. É a música ruim. Liga-se o rádio e lá está ela. Entra-se no elevador, e vem mais baboseira. E tome-se o castigo em comerciais, nas chamadas dos programas bregas. O problema é universal. Um grupo de quinze estudiosos reuniu-se num seminário nos EUA para discutir "Bad Music" (Música Ruim), título do livro agora publicado pela Routledge, que leva o subtítulo "The Music We Love to Hate" (A Música Que Adoramos Odiar). Os editores, Christopher J. Washburne e Maiken Derno, já pedem desculpas de saída, no prefácio: "Este livro surgiu durante um bate-papo em torno de uma taça de vinho a respeito da discrepância entre a música à qual os estudiosos dedicam seu precioso tempo e aquela que a maioria das pessoas neste mundo de fato ouvem. Com poucas exceções, os estudiosos acadêmicos tendem a focar na música que tem valor especial em termos de influência, competência e genealogia histórica - e evitam a música trivial, banal do dia-a-dia." Afinal, o que é música ruim? Para o musicólogo alemão Theodor Adorno, a música do finlandês Sibelius era o máximo de ruindade. Hoje, todo e qualquer crítico de jazz politicamente correto está cansado de bater no saxofonista "light" Kenny G e chamá-lo de palhaço e artisticamente desonesto. Mas ele vendeu mais de 30 milhões de discos, e embalou milhões de pessoas em elevadores mundo afora, nas últimas décadas. Aliás, todo mundo gosta de bater em cachorro morto. Que mal há em espinafrar as duplas caipiras tipo Chitãozinho e Xororó, a breguíssima Roberta Miranda ou o sumo-sacerdote Roberto Carlos? Não dói, e ainda por cima aumenta prestígio. Alfred Appel, autor de um belo livro, "Jazz and Modernism", diz a certa altura que "os rappers e os roqueiros são chamados de 'artistas' tão facilmente quanto os jornalistas que cobrem suas façanhas são alcunhados de