Méritocracia
RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP
PENSATA
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020140108
MERITOCRACIA
E SOCIEDADE BRASILEIRA
ABAIXO A MERITOCRACIA
“Abaixo a meritocracia” é uma das frases que aparecem com frequência em cartazes que ilustram as demandas de diferentes categorias profissionais em greve e outras demandas sindicais no Brasil. Está, portanto, longe de ser uma novidade. O interessante, no momento atual, é que essa demanda – “abaixo a meritocracia” – se reproduz simultaneamente a uma mudança no discurso político partidário, administrativo e institucional brasileiro, que justamente quer promover o que ela quer extinguir. As atuais e frequentes menções à meritocracia no discurso de autoridades governamentais, de políticos e de empresários invocando a necessidade de “implantação da meritocracia” (termo comumente adotado), nas várias esferas da sociedade brasileira, são ilustrativas dessa mudança. Essa transformação discursiva faz-se acompanhar de movimentos em inúmeras organizações, públicas e privadas, de médio e grande portes, cuja alta administração tem encarregado, a partir de meados da primeira década do século XXI, a sua área de Recursos
Humanos (RH) e/ou de Desenvolvimento Organizacional (DO) de “implantar a meritocracia” em seus ambientes de trabalho. Essa tarefa não deixa de ser irônica, porque grande parte dessas organizações já possui sistemas de avaliação de desempenho, um dos instrumentos mais usados para se medir e reconhecer o mérito, com promoções, aumentos salariais e bônus como consequência dos resultados. Se considerarmos que avaliar é atribuir valor, mérito aos resultados obtidos, o que a expressão ”implantar uma meritocracia” quer efetivamente dizer? Que fatores encontram-se na raiz dessa mudança de discurso político, administrativo e empresarial e nessa pressão pela “implementação de uma meritocracia” institucional?
Nessa oportunidade, quero explorar o que subjaz a essa demanda por