Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente
O poema Mãos dadas de Carlos Drummond de Andrade é composto por 13 versos, sendo 7 versos na primeira estrofe, 6 na segunda. Os versos não apresentam o mesmo número da sílabas, portanto podem ser considerados irregulares ou livres, característicos do modernismo. Sendo assim podemos perceber que o esquema rítmico é variado nas 2 estrofes e que o poema não tem rimas consoantes, apenas rimas vogais, tanto externas como internas, como por exemplo nos versos 1, 2 e 4: mundo, caduco, futuro, taciturnos.
Como o título do poema propõe o mesmo tem como objetivo exaltar a união entre as pessoas como sendo a melhor forma de enfrentar conscientemente os problemas sociais da época. No primeiro parágrafo podemos perceber uma preocupação do autor de que o seu poema se aproxime das pessoas, como uma forma de esperança e ajude a transformar as suas vidas. Ele também recusa-se a viver o passado, “Não serei um poeta de um mundo caduco”, ou seja, um mundo ultrapassado e sem perspectivas, ele prefere olhar para o presente e vê o trabalho coletivo como forma de mudar a realidade.
Na segunda estrofe o autor apresenta a ideia do que seja uma poesia alienada e se recusa a fazê-la, a repetição da palavra “presente” enfatiza a ideia de viver o momento, o aqui e agora. Modo geral podemos dizer que o poema faz uma análise crítica da situação social e política do seu