Crônica - De Mãos Dadas
Em uma quinta-feira ensolarada decide ir ao shopping com meu namorado. Ele tinha recebido o salário e estava ansioso e animado para comprar uma câmera semi-profissional que estava namorando - além de mim - há meses, então aproveitamos que estávamos de boa e fomos ver a câmera.
Como eu sou homem e meu namorado também, (infelizmente) ainda não é comum as pessoas verem dois homens de mãos dadas. Porém não me incomodo muito com isso, ao contrário, tento sempre me divertir ao ver as expressões das pessoas passando por nós e olhando indiscretamente e inevitavelmente para nossas mãos juntas.
Porém, nesse mesmo shopping uma coisa me chamou a atenção. Quando estávamos chegando à loja em que meu namorado tinha visto a câmera, uma mulher com um bebê no colo e outra criança, de mais ou menos uns 4 ou 5 anos, segurando sua mão direita, vinha em nossa direção. A mulher, como eu já esperava, automaticamente olhou para nossas mãos, porém o que chamou atenção de sua filha não foram dois homens de mãos dadas, e sim o rosto do meu namorado, que sorria alegremente em resposta do olhar da menina.
Ver aquilo me vez desligar-me totalmente do momento e comecei a refletir sobre o que aquela cena representava. Para a mulher, de acordo com os costumes já engessados ao longo de sua vida, o ato de dois homens estarem de mãos dadas é algo (repito, infelizmente) incomum. Já para a menina, que está em sua fase de crescimento e de construção moral, aquilo era totalmente normal, um ato de afeto entre duas pessoas que se amam, independente do sexo de ambos.
O olhar preconceituoso, o pré-conceito, o ver aquilo incomum é inserido na vida de uma pessoa pela própria sociedade ao decorrer de sua vida e de sua construção moral. Uma criança nasce totalmente sem maldade, sem preconceito, e tudo que não mostre nenhum ato de maldade para ela é comum, é normal, é válido. Quem cria e evolui o preconceito em um ser é a própria sociedade.
Caindo em si depois da reflexão, olhei para