Mundividências e Educação
por Luís Sebastião
Apesar do carácter fortemente polissémico da palavra educação, podemos ousar defini-la, com Manuel Antunes, como “uma espécie de acção”. Acção entendida, aqui, no sentido weberiano, isto é, teleonómica, procurando alcançar um conjunto de finalidades previamente estabelecidas, e que visa, no limite, formar o humano na plenitude da sua humanidade.
Formar o humano pressupõe, inevitavelmente, uma referência a uma forma particular de se ser humano, tida por boa, por desejável. Ou, se se preferir, a um modelo de humano e de humanidade a realizar. Isto é, a educação pressupõe não apenas a questão antropológica – o que é o Homem? – mas obriga, outrossim, a uma resposta determinada e substantiva a esta reposta, que viabilize a acção educativa. Resposta sempre precária, sempre provisória mas, ainda assim, a uma resposta. Além disso, resposta só possível no quadro de uma concepção alargada do mundo, da vida, da história. Isto é, resposta só possível no quadro de uma mundividência. Octavi Fullat di-lo expressamente: “toda a Antropologia filosófica se encontra no quadro de uma Weltanschauung.” (Fullat, 1994: 90).
O conceito de mundividência, que é uma das possíveis traduções da palavra alemã Weltanschauung – visão do mundo e da vida, concepção do mundo ou cosmovisão seriam outras – pode ser abordado segundo várias perspectivas e dar origem a diversas interpretações. Pode entender-se como uma disposição psíquica individual – enfatizando-se aqui a sua dimensão subjectiva, aquela que, segundo Heidegger torna o conceito de Weltanschauung uma das categorias tipificadoras da modernidade (Cf. J.C. Duarte, verbete Mundividência, in Logos, Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Verbo) – como um conteúdo cultural de natureza supra-individual, característico de uma determinada comunidade ou, mesmo, como um conceito de alto nível de elaboração, capaz de integrar, ele próprio, uma ciência, uma filosofia ou uma religião,