Mundialização financeira
Nailsa Maria Souza Araújo
Deixei por último para tratar da mundialização financeira da economia capitalista pela razão inversa de sua importância na articulação complexa das estratégias ofensivas de saída da crise do capital e de retomada da lucratividade. Assumo o termo mundialização, em detrimento do conceito de globalização, porque, como assegurou Chesnais (1996), este é utilizado como um embuste ideológico para mascarar a nova configuração do capitalismo mundial e os mecanismos que comandam seu desempenho e sua regulação. Tomo como suposto da argumentação que farei aqui, uma afirmação de Harvey (2005). Ele diz que, se pretendemos encontrar algo verdadeiramente peculiar na situação atual do capitalismo “deveremos concentrar nosso olhar nos aspectos financeiros da organização capitalista e no papel do crédito” (p. 184). E mais, se nos perguntamos pelas possibilidades de estabilização da ordem capitalista, “é nos domínios das novas rodadas e formas de reparo temporal e espacial que é mais fácil encontrar elementos” (idem) para respostas. Tendo como suporte aquelas afirmações e as digressões de Chesnais (1996, 2005), observa-se que uma das características centrais da atual configuração da economia capitalista é o aparentemente incontrolável poder das finanças, ou do capital portador de juros[1]. Essa hipertrofia da esfera financeira tornou-se possível por causa da derrubada do sistema de Bretton Woods (padrão ouro-dólar) e seu regime de câmbio fixo e de relativa subordinação das instituições financeiras e do capital de empréstimos às necessidades do investimento industrial (Chesnais, 1996, p. 250), advindas do pós-guerra. Em vista do advento da crise, o capitalismo tardio investe na implantação de um conjunto de medidas, ainda nos anos 70, oriundas do Reino Unido e do governo norte-americano, para criar um sistema contemporâneo de finanças liberalizadas e mundializadas, a