Multiplas vozes na canção do Exílio
(...)
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
(Gonçalves Dias)
“Europa, França e Bahia”
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade)
Minha Terra
Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá
Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha
Nas débeis cordas da lira hei de fazê-la rainha;
(...)
(Casemiro de Abreu)
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá con certidão de idade!
(Murilo Mendes)