Mudar a cidade
SOUZA, Marcelo Lopes. MUDAR A CIDADE: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos. 3ª Ed. Bertrand Brasil.
PARTE I – Contextualizando o planejamento e a gestão urbanos
Os conceitos de planejamento urbano e gestão urbana
Planejamento e gestão: conceitos rivais ou complementares?
Conceito de gestão: há bastante tempo foi ligado à administração de empresas (gestão empresarial).
No Brasil, na segunda metade da década de 80, o uso da palavra gestão expandiu-se para outras áreas: gestão urbana, gestão territorial, gestão ambiental, gestão educacional, gestão de ciência e tecnologia e outras tantas.
Na interpretação de alguns, a palavra gestão veio bem a calhar como um sucedâneo do termo planejamento.
Anos 80: o termo planejamento chega ao Brasil com influências ideológicas das críticas de corte maxista iniciada na Europa e nos EUA nos anos 70. Para muitos analistas, a palavra planejamento deveria ser banida ou substituída por outra expressão.
Anos 90: sob a égide ideológica do neoliberalismo, enfraquece-se o sistema de planejamento e própria legitimidade do exercício de planejar. O termo gestão ganha espaço nos discursos democráticos, operando com base em acordos e consensos, em contraposição, ao planejamento, que seria mais tecnocrático.
A substituição de planejamento por gestão baseia-se em uma incompreensão da natureza dos termos envolvidos, por diversos motivos:
Planejamento e gestão não são termos intercambiáveis, por possuírem referenciais temporais distintos e por se referirem a diferentes tipos de atividades.
Planejar sempre remete ao futuro: significa tentar prever a evolução de um fenômeno; tentar simular os desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis benefícios.
Gestão reteme ao presente: significa administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos disponíveis e das necessidades imediatas.
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