Morfologia do português
FORMAS X-EIRO DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Maria Lúcia Leitão de Almeida
Carlos Alexandre Gonçalves
(Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Resumo:
Neste artigo, analisamos a polissemia das formações X-eiro, sugerindo elas constituem uma construção gramatical, nos termos de Goldberg (1995). Além disso, procuramos estabelecer o significado mais básico do sufixo, se agente (como em ‘sorveteiro’ e ‘sapateiro’) ou locativo (como em ‘cinzeiro’ e ‘galinheiro) e depreender os processos cognitivos que subjazem às diferentes acepções das formas derivadas.
1. A questão da polissemia
Classicamente, uma palavra é considerada polissêmica se mais de uma definição é necessária para dar conta de seus significados ou, em termos mais precisamente aristotélicos, a forma é polissêmica se um único conjunto de condições necessárias e suficientes não pode ser definido para cobrir todos os conceitos expressos por ela. Se tal ocorre, três problemas imediatamente se colocam:
(a) se diferentes sentidos da palavra são sistematicamente relacionados, como eles derivam uns dos outros?
(b) se há relação semântica entre formas, como elas podem ser organizadas de modo a refletir regularidades?
(c) a distinção entre aspectos do significado corresponde a múltiplos sentidos da palavra ou constitui diferentes manifestações de um sentido comum?
Tais questões, que freqüentemente permeiam a literatura sobre polissemia (Fillmore
& Kay, 1994), tornam-se ainda mais complexas quando consideramos a questão dos diversos sentidos que aparecem em construções afixais, pois a tais questões se acrescentam aspectos específicos da teoria morfológica. Dessa maneira, deve-se considerar, também, (1) se a polissemia está na base ou no produto da derivação, (2) se o próprio formativo é polissêmico, ou, ainda, (3) se há características da base que licenciam este ou aquele significado. 2. Objeto da análise e objetivos
Neste