Montaigne e o pedantismo
No texto chamado "Do Pedantismo", Michel de Montaigne busca refletir acerca da distinção entre erudição e sabedoria1 ; o que pode parecer um pouco estranho, pois geralmente elas não parecem ser coisas distintas, ou seja, uma pessoa sábia é uma pessoa erudita.Contudo, essa distinção parece ser bem clara para o filósofo francês, se entendermos erudito como alguém que apenas domina um conhecimento, alguém que apenas ostenta o conhecimento como um bem cultural – uma bagagem cultural como normalmente as pessoas dizem. Nesse caso, portanto, aquela educação que tenha como fim apenas a retenção de conhecimento – apenas encher a nossa "bagagem" – seria uma educação pedante, visto que,não nos tornaria homens melhores2 , não nos prepararia para a vida.
Ainda assim, no entanto, essas duas definições, de sabedoria e de erudição, onde a primeira estaria relacionada à qualidade do conhecimento e a segunda à quantidade do conhecimento, sendo que a primeira tem mais valor do que a segunda para o filósofo, parece ser muito arbitrária, pois: o que nos garante esse valor maior de uma em relação a outra? Que razões o filósofo tem para determinar que o que importa é aquilo que nos prepara para a vida? Será que a mera erudição não nos prepara para a vida também? Que vida é essa e o que significa nos tornarmos homens melhores? O mais certo, todavia, é que não encontraremos nesse texto - aliás, em nenhum ensaio de Montaigne -, a pretensão de chegar a uma verdade absoluta, mas sim, apenas o ponto de vista de uma pessoa que está se "fazendo" no próprio ato de escrever, que está se experimentando, como fica claro na advertência ao leitor: "Quero que me vejam aqui em minha maneira simples, natural e habitual, sem apuro e artifício: pois é a mim que pinto. Nele meus defeitos serão lidos ao vivo, e minha maneira natural, tanto quanto o respeito público mo permitiu" (Montaigne, p. 4). Portanto, quando nos direcionamos ao texto de Montaigne, precisamos ter uma outra