Momentos
Bernard José Pereira Alves1
Joyce Gotlib2
Resumo
Este trabalho diz respeito a momentos inaugurais de processos de reforma agrária em duas realidades distintas: no Brasil, os eventos a serem explorados tratam do processo de reforma agrária levado adiante no Rio Grande do Sul pré-1964; na África do Sul, o período que referencia a análise é o posterior ao fim do apartheid, ou seja, a partir de 1994. A aproximação de realidades sócio-históricas tão diferentes somente se tornou possível devido à identificação, em ambos os países, da conjugação de elementos que não se inscrevia somente na lógica interior dos governos que promoviam os projetos. Isto é, para que os processos de reforma agrária fossem implementados, tanto no Brasil quanto na África do Sul, foi necessária a ocupação de sujeitos singulares em posições não vinculadas aos governos nas figurações brasileira e sul-africana. Se por um lado pôde-se perceber a existência de formas de organização coletiva distintas entre os países, por outro, a influência dessas formas na concretização dos processos é similar. Admite-se aqui que a sociedade é construída por redes de interações vivenciadas por indivíduos numa perspectiva relacional, ou seja, preza por perceber que os sujeitos, tanto dentro quanto fora dos governos, assumem determinada relevância nos processos sociais.
Palavras-chave: reforma agrária; Brasil; África do Sul
Introdução
Neste artigo discutiremos as ações de governo referentes às políticas de terras, de duas realidades distintas: Brasil e África do Sul3. A análise do caso brasileiro vincula-se ao período anterior à ditadura militar, especificamente, no estado do Rio Grande do Sul, onde se concentraram alguns dos eventos inaugurais do processo de reforma agrária brasileiro. Com relação ao caso sul-africano, o momento em questão refere-se ao processo de transição política após o fim do regime do apartheid, em que