Moliere
O século XVII: príncipes e donzelas vivem o esplendor da corte do Rei Sol; a moda é feita de cores e cetins; Watteau pinta cenas campestres e idílicas; os burgueses invejam o fausto da nobreza palaciana e guardam dinheiro e poder para a revolução que virá um século depois; o povo mergulha cada vez mais na miséria; Versailles é finalmente concluído. A corte se diverte.
Em 1670, no castelo de Saint-Germain-em-Laye, os nobres vibram com a apresentação de mais uma comédia palaciana de Molière, o comediante do rei: Os amantes magníficos. Em 1671, As Sabichonas (As Eruditas) leva o público a rir mais uma vez da literatice dos salões literários da corte.
E, no fim deste ano, no Palais-Royal, As artimanhas de Scapino aproxima Molière do gênero ligeiro e movimentado da Commedia dell’Arte. Mas, em fevereiro de 1673, já tuberculoso e incurável, Molière tem um ataque de homeptise em cena aberta, ao representar o papel principal de O doente imaginário.
O público imagina tratar-se de mais uma interpretação do grande ator e não mede o riso. Assim, enquanto Molière se curva de sofrimento e perde sangue pela boca, a plateia aplaude estrondosamente.
O pano cai e o comediante é levado, moribundo, para sua casa na rua Richelieu, onde Armande, a esposa que o abandonara anos antes, fecha-lhe os olhos para sempre.
Nenhum padre encomenda sua alma – Molière é um comediante e a Igreja não permite cerimônias fúnebres para comediantes. Armande, desesperada, corre até o palácio e implora ao rei uma sepultura cristã para Molière.
Luís XIV pede ao arcebispo que abra uma exceção. O apelo é atendido, mas com algumas condições: o poeta será enterrado no cemitério Saint-Joseph, “fora das horas do dia” e no local reservado aos suicidas e às crianças sem batismo.
Embora sem reza e sem coroa, Molière morreu como sempre qui: no palco, representando a sua última comédia e fazendo a plateia rir.
Uma vocação diabólica
Jean-Baptiste Poquelin nasceu em 15 de janeiro de 1622, na