modismo academico
O niilismo schopenhaueriano: uma introdução
Jarlee Salviano*
Resumo: Neste texto procuramos mostrar como se pode analisar o problema do niilismo na filosofia de Schopenhauer sem recorrer à interpretação nietzschiana – tendo em vista o peso e a importância dada por esta interpretação a este conceito dentro da filosofia e levando em conta principalmente que o termo não aparece em nenhum momento da obra schopehaueriana – tendo como pano de fundo a recepção do idealismo transcendental kantiano na Alemanha do final do século XVIII e início do XIX.
Palavras-chave: niilismo – nada – Vontade – idealismo
O problema do niilismo acompanha às escondidas todo o desenvolvimento do pensamento schopenhaueriano. Antes de mostrar sua face nas últimas linhas de O mundo como vontade e representação, o fantasma do nada já orientava os primeiros traços da pena do filósofo de Danzig. Ao verificarmos pois como esta problemática se aloja no edifício filosófico de
Schopenhauer, cabe-nos erguer o cenário de nossa investigação, ou seja, é preciso aqui escutarmos o canto que embala a dança do niilismo na filosofia alemã do início do século XIX .
É lugar-comum entre os estudiosos do tema, que a preocupação com o Nada, o vazio de Ser, o Não-ser, apesar de ter seu nome filosófico registrado no final do século XVIII, tem a idade da própria Filosofia. De fato, não foi o Ser a única prole a descansar no berço da civilização ocidental: um outro rebento, o Não-ser, contemporâneo daquele, já clamava pela atenção dos primeiros sábios da antiga Hélade. Heidegger, por exemplo, perce-
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Mestrando do Departamento de Filosofia – FFLCH-USP e bolsista FAPESP.
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SALVIANO, J. Cadernos de Filosofia Alemã 7, P. 37-53, 2001
bera já nos Diálogos platônicos a presença oculta do niilismo (Cf. Pöggeler
3, p. 308). Talvez não seja descabido também apontar esta presença nos versos oraculares do