mitos sobre o homem
A multideterminação do humano: uma visão em Psicologia
“Eu sou eu e a minha circunstância”
Ortega Y Gasset
OS MITOS SOBRE O HOMEM
“Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto!”
Eis aqui um provérbio popular que expressa por inteiro o que pretendemos questionar e discutir neste capítulo.
E não é só na crença popular que está presente a idéia de que o ser humano nasce já dotado das qualidades que, no decorrer de sua vida, irão ou não se manifestar. Na Filosofia encontraremos, em diversas correntes, idéias semelhantes a esta.
Bleger, em seu livro Psicologia da conduta, sistematiza pelo me¬nos três mitos filosóficos, que influenciaram as ciências humanas em geral e a Psicologia em particular, e que apresentam a idéia de que o homem nasce pronto.
• O mito do homem natural: concebe o homem como possuidor de uma essência original que o caracteriza como bom, possuindo qualidades que, por influência da organização social, se manifes¬tariam, perderiam ou modificariam, isto é, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe.
• O mito do homem isolado: supõe o homem como, originária e primitivamente, um ser isolado, não-social, que desenvolve gradualmente a necessidade de relacionar-se com os outros indiví¬duos. Alguns teóricos consideram necessário, para esse relaciona¬mento, um instinto especial, que Le Bon, um dos pioneiros da Psicologia social, denominou instinto gregário. Sem esse instinto, o homem não conseguiria relacionar-se com seus semelhantes, e seria impossível a formação da sociedade.
• O mito do homem abstrato: nessa concepção, o homem surge como um ser cujas características independem das situações de vida. O ser está isolado das situações históricas e presentes em [pg. 167] que transcorre sua vida. O homem é estudado como o “ho¬mem em geral”, e seus atributos ou propriedades passam a ser apresentados como universais, independentes do momento histórico e tipo de sociedade em que se insere e das relações que vive. Neste caso, uma