Mitológicas - Lévi-Strauss
Lévi-Strauss projetou no mito a realização de um desejo coletivo inconsciente: para ele, o mito existe para resolver uma contradição que a sociedade não sabe resolver. Por isso, assim como o sonho, ele não pode jamais ser apreendido em sua literalidade.
Propôs-se então uma incursão no mundo das tribos ameríndias, onde passou pela a obrigação de viver, de criar, de reviver as experiências por si mesmas e assim, criando um análise de descoberta a partir da observação, oferece-nos uma obra montada a partir deste trabalho de campo que se baseia numa transição de um hemisfério ao outro para demonstrar um mito não tem começo nem fim, pois nada mais seria do que um fragmento de uma narrativa maior: a obra “Mitológicas”, dividida em quatro volumes – “O cru e o cozido” (1964); “Do mel às cinzas” (1967); “A origem dos modos à mesa” (1968) e “O homem nu” (1973).
No primeiro volume, a dicotomia básica é o cru e o cozido, que se refere basicamente à passagem da natureza à cultura, demonstrando direta ou indiretamente a invenção do fogo e, portanto, da cozinha (em outras palavras, cru é uma metáfora que refere à natureza e o fogo, a cultura que surge). Lévi-Strauss irá demonstrar que o mito do desaninhador de pássaros, que narra a origem do fogo, é a versão atenuada de um grupo de transformações passível de ser encontrado de Norte a Sul do Novo Mundo. Os protagonistas de todo esse "campo mítico" compõem um "mito único" e estão ligados entre si por uma relação de afinidade matrimonial: os humanos, de um lado, e um povo celeste que detém o fogo, de outro. Em linhas gerais, o fogo, que é o fundamento da cultura, apresenta-se como correspondente da aliança, o fundamento da sociedade.
O segundo volume (Do mel às cinzas, 2005 [1967]) trata da oposição entre o mel e o tabaco. O mel aparece ligado à ideia de natureza e o tabaco ao mundo sobrenatural. Ambos os volumes são voltados às metáforas culinárias na representação dessas passagens, sendo que