Ciencias mitologicas
Claude LÉVI-STRAUSS. A origem dos modos à mesa – Mitológicas 3. São Paulo, CosacNaify, 2006. 524 páginas..
A partir das fecundas hipóteses levi-straussianas contidas na tetralogia Mitológicas, podem-se reconhecer chaves de leitura instigantes para se pensar o universo mitológico ameríndio como constituído, necessariamente, por relações de transformação. Assim, o pensamento ameríndio é apresentado com base em fragmentos religados pela comparação, revelando um verdadeiro sistema em que as narrativas se interpenetram, o que possibilita desvelar códigos e temas conceituais que acentuam não apenas uma relação genético-histórica entre mitos, mas também demonstram a propriedade de determinadas feições e problemas que o pensamento ameríndio assume.
Lévi-Strauss conduz-nos rio abaixo, de bubuia, em sua canoa mitológica, fazendo-nos visitar muitas paisagens, percorrer atalhos por um caminho-temático principal, que geralmente coincide com os títulos pertencentes às Mitológicas (O cru e o cozido; Do mel às cinzas; A origem dos modos à mesa). Se a mitologia é o guia natural de Lévi-Strauss, os múltiplos temas abordados e os desvios percorridos vão aos poucos se juntando e, no fim das contas, os fios soltos atam-se novamente passando a ser um recomeço, porém, a partir de outro ponto de vista. Lévi-Strauss demonstra que, dependendo da perspectiva que se tome, o sentido do mito transforma a percepção do significado de natureza e de cultura. Assim, natureza e cultura são ferramentas conceituais mais do que significados cristalizados (p. 273).
Atravessando um continente, já que este terceiro volume adentra as planícies da América do Norte, Lévi-Strauss encontra relações entre pensamentos que põem em evidência os mesmos ingredientes e os mesmos problemas. Os mitos revelam uma propriedade continental, histórica, geográfica e, sobretudo, estrutural no seu sentido mais pleno: "Já que a rã norte-americana ladra de crianças transforma uma mulher