MITO aula 3
A consciência mítica é, tanto quanto a consciência filosófica, uma maneira de organizar um conhecimento sobre a realidade.
(Georges Gusdorf)
Estimamos que as mitologias mais que as ciências e as filosofias, encerram, junto com as religiões, os grandes elucidamentos da essência humana. Aí as culturas projetaram, geração após geração, grandes visões, acumularam reflexões, fizeram aprofundamentos e os passaram a seus pósteros. Souberam usar de uma linguagem plástica, com imagens tiradas das profundezas do inconsciente coletivo, acessível a todas as idades e a todos os tempos. Além das visões e dos símbolos, suscitaram e continuam suscitando grandes emoções. E são essas que ficam e mobilizam as pessoas e os povos da história.
Os mitos não são coisas do passado arcaico, produtos aleatórios do pensamento primitivo ou da fantasia incontrolada. São atuais, porquanto nós, modernos, também criamos mitos. Os mitos são linguagens para traduzir fenômenos profundos, indescritíveis pela razão analítica. Como falar do enamoramento, do amor, do cuidado essencial, da tradição da pessoa amada, das crises da vida, das doenças incuráveis, do nascimento e da morte senão com emoção, contanto estórias exemplares. Os conceitos abstratos e frios não conseguem traduzir as cores da realidade. Não geram figurações na imaginação. Por isso, de certa forma, falseiam nossa experiência dos fenômenos vividos.
Devemos, pois saber combinar inteligência instrumental-analítica, donde nos vem o rigor cientifico, com inteligência emocional-cordial, donde derivam as imagens e os mitos. As deusas e os deuses mitológicos não devem ser considerados como existentes em si mesmos, seres substanciais e independentes de nossa existência. Configuram arquétipos5 do inconsciente coletivo, vale dizer, centros de grande energia e significação, que somente através da linguagem dos heróis e das heroínas, dos deuses e das deusas podem ser expressos adequadamente. São figuras